Yvonne Rainer foi direto ao ponto: “Dança é difícil de ver”. Ela escreveu isso em 1966, em meio a um período histórico o qual se pode qualificar como um tempo de “reencantamento”. Em meados de “maio de 1968” se constituiu uma outra realidade, diferente da industrial-produtivista na qual o poder tanático do capital impõem formas determinadas de pensar e de agir. Nos anos 1960 e 1970, os jovens da Judson Dance Theatrepraticaram a espontaneidade consciente e criadora. Com a crítica ao mundo desencantado, essa geração colocou como lema a verdade do desejo. Nesse contexto Yvonne Rainer pôde reinventar a dança. 

A Dança como uma arte do tempo, que desaparece no momento mesmo que vem a ser, resiste à visão. Como notou Yvonne Rainer, um artista que reconheceu essa dificuldade tinha duas opções. Yvonne tentou fazer a performance de dança menos efêmera ao repetir movimentos e frases em várias direções, como se se estivesse andando em volta de uma escultura, no seu trabalho The Bells, de 1961. Ou, ela exagerou o problema do desaparecimento da dança ao construir um contínuo elíptico de movimentos únicos, na sua coreografia mais famosa Trio A. Porque a dança hoje continua sendo difícil de ver, Trio A atualiza a ontologia do desaparecimento da dança, um fenômeno que eu desejo dançar, refletir e debater com o público no Trio A Lecture-Performance. 
TRIO A REENACTMENT
TRIO A 
LECTURE-PERFORMANCE

Uma Lecture-Performance (performance-palestra) combina elementos de espetáculo e apresentação acadêmica, criando um formato híbrido de expressão. Em Trio A Lecture-Performance, eu exploro, proponho reflexões, e danço a icônica peça Trio A (1966) de Yvonne Rainer. Eu trabalho com uma variedade de mídias — incluindo arquivos digitais, anotação digital de dança, movimento de dança, imagens documentais, textos, ilustrações digitais, captura de movimento (MoCAP) e vídeos de dança —, e o espetáculo transita entre a performance de dança e o ambiente de um seminário acadêmico. Esse formato é uma maneira de acessar a história da dança através da prática. A minha prática de dança questiona o corpo e o processo de trabalho, assim como os métodos de composição coreográfica, tendo Trio A como objeto de investigação. 

DEZ

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