PARTITURAS

Em 2021, eu fui convidada pela curadora Horrana Santos e pelo curador José Augusto Ribeiro, para criar uma coreografia a partir da ativação de algumas obras da exposição solo "José Damasceno Moto-Contínuo", do artista José Damasceno.
O pensamento coreográfico, na diversidade de manifestações pelos quais ele se apresenta, é o assunto e a forma pela qual eu inscrevo a minha trajetória no campo do visual. O convite feito a mim para ativar a exposição de José Damasceno, abriu o espaço de um laboratório para a investigação do encontro da coreografia com as artes visuais. A dança no espaço da Pina Estação foi organizada na mídia de vídeo, e a estrutura da obra resulta da inter-relação entre a dança––o movimento em relação a algumas esculturas, pinturas e instalações––e as artes visuais na forma de partituras coreográficas.
Eu recorro à tradição da dança minimalista norte-americana para a ativação––haja vista que o minimalismo é elemento estrutural de alguns trabalhos ativados de Damasceno como o “Trilha Sonora”, e o “Método para arranque e deslocamento.” Parte do meu processo compreendre arquivos digitais de dança como objetos encontrados, como readymades da História da Dança. Para esse trabalho eu relembro e traduzo a dança minimalista de Trisha Brown e Lucinda Childs em novas partituras coreográficas. Thelma Bonavita, Juliana França e Pedro Galiza fazem uma participação com a partitura coreográfica da peça “Fleshion”, que coloca a estética minimal em fricção com as dimensões alegórica, narrativa e ficcional, abrindo e atualizando o debate sobre essa linhagem estética tanto na dança quanto nas artes visuais. “Partituras” retoma a tradição da dança minimalista e rejeita a sua primeira intenção metafórica––que seria, justamente, a morte da metáfora, “o que se vê é o que se vê” (Donald Judd)––, e não somente afirma, atualiza e ativa os conteúdos dessas heranças coreográficas, construtivas e geométricas, como propõe uma leitura negativa do primeiro minimalismo.
*English bellow
In 2021, I was invited by curators Horrana Santos and José Augusto Ribeiro to create a choreography activating selected works from artist José Damasceno's solo exhibition, "José Damasceno Moto-Contínuo."
Choreographic thinking, in its diverse manifestations, is both the subject and the method by which I inscribe my artistic trajectory within the visual arts. The invitation to activate José Damasceno's exhibition opened up a laboratory space for investigating the intersection between choreography and visual arts. The dance, presented at Pina Estação, was structured through video media. The artwork's framework results from the interplay between dance—movements in dialogue with selected sculptures, paintings, and installations—and visual arts, structured as choreographic scores.
For this activation, I drew from the tradition of North American minimalist dance, given that minimalism is structurally inherent in some of Damasceno's activated works, such as "Trilha Sonora" and "Método para arranque e deslocamento." Part of my process involves understanding digital dance archives as found objects, akin to readymades in Dance History. In this project, I revisit and translate the minimalist dances of Trisha Brown and Lucinda Childs into new choreographic scores. Thelma Bonavita, Juliana França, and Pedro Galiza participate through the choreographic score "Fleshion," placing minimal aesthetics in friction with allegorical, narrative, and fictional dimensions, thus opening and updating the discourse surrounding this aesthetic lineage in both dance and visual arts. The work "Partituras" returns to minimalist dance tradition and rejects its initial metaphorical intention—the metaphor's very demise embodied in Donald Judd’s notion, "what you see is what you see." Instead, it affirms, updates, and activates the contents of these choreographic, constructive, and geometric heritages, while also proposing a critical reinterpretation of early minimalism.




FLESHION
Thelma Bonavita, Juliana França e Pedro Galiza fazem uma participação com a partitura coreográfica do trabalho Fleshion, que coloca a estética minimal em fricção com as dimensões alegórica, narrativa e ficcional, abrindo e atualizando o debate sobre essa linhagem estética tanto na dança quanto nas artes visuais.


traduções de esculturas
Na operação das traduções de algumas esculturas e instalações de José Damasceno em partituras coreográficas, eu proponho um método de pensamento, uma visualização esquemática de uma ideia, que se caracteriza pela sua capacidade de organizar dados e experiências, de sintetizar informações, como uma máquina que pode produzir conhecimento. A partitura sempre está pronta para ser ativada, portanto, ela está sempre em devir. Seu formato, inter-relacionando desenho e dança, emula a arte conceitual: gráfica, textual, com instruções de base numérica, que poderão ser executados, desmantelados, reavaliados, assim estando para além da durabilidade de qualquer materialização singular de suas ideias e procedimentos.


Coreografia: Júlia Abs
Perfomers: Júlia Abs, Juliana França e Pedro Galiza
Colaboração: Thelma Bonavita
Videografia: Renata Mosaner e Henrique Rodriguez
Trilha Sonora: Jeroen Search
Colaboração Figurino: Valentina Soares (Mescla)